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Aquarela na escola: a mancha que vira arte

A maioria das crianças adora desenhar e pintar. A atividade ajuda a promover a coordenação motora, a concentração, a criatividade e a sensibilidade – e, sobretudo, é uma forma de se expressar. Na escola, cabe ao professor estimular que todos desenhem muito. Além disso, é importante aumentar o repertório dos estudantes, oferecendo materiais variados. Pintar com aquarela na escola pode trazer experiências enriquecedoras, em qualquer etapa da educação. 

O artista plástico José Mianutti, que trabalha com aquarela há mais de 25 anos, desenvolveu um curso para crianças e garante: desde a educação infantil elas são capazes de aprender técnicas para lidar bem com o material. “Primeiro, é preciso treinar o degradê, algumas manchas com diferentes graus de saturação e diluição. Depois, começar pelas paisagem sem muitos detalhes, para eles praticarem”, recomenda. O grau de dificuldade deve ir crescendo de acordo com a idade e com as habilidades que os alunos vão adquirindo.

A aquarela tem uma técnica bastante única, explica José. “Uma das principais características dela é a mancha, e o desafio é como controlar a mancha. Temos que aprender a controlar o grau de umidade, de acordo com o que efeito que se quer transmitir”, diz. Mas o controle nunca será absoluto. Segundo o artista plástico, a aquarela ensina a lidar com o inesperado, a olhar para um suposto defeito como um efeito. 

O material de pintura para iniciantes costuma ter preço acessível, não ocupa muito espaço, nem tem cheiro forte, características que facilitam o uso escolar. Quando um professor se propõe a trabalhar com aquarela em classe, pode também aproveitar para contar sobre a origem desse tipo de pintura. 

“A aquarela era muito utilizada antigamente para se fazer rascunhos, quando ainda não havia tintas comercializadas em tubos e os pintores iam trabalhar ao ar livre. Eles usavam as aquarelas porque era mais fácil de transportar. Iam ao local que queriam retratar, faziam um esboço para depois, no atelier, fazer a pintura definitiva”, conta José. 

O visual da aquarela acabou conquistando muitos artistas, que escolheram usá-las para fazer obras finais. “O professor pode trazer exemplos de artistas antigos e contemporâneos e mostrar como a técnica oferece tantas possibilidades”, afirma.

 “O professor pode trazer exemplos de artistas antigos e contemporâneos e mostrar como a técnica oferece tantas possibilidades”

Projeto interdisciplinar

O desenho e a pintura podem se manter na rotina escolar até o final do ensino médio. E têm ainda o potencial de integrar conhecimentos de várias disciplinas. Professora de artes no Colégio Estadual José Leite Lopes, o Nave Rio, Maiara Zacarone desenvolveu um projeto de aquarela na escola em conjunto com as professoras de biologia e química. Nele, os alunos produziram os pigmentos que, depois, usaram para fazer suas obras. 

“A professora de biologia estava trabalhando com botânica, já tinha extraído tinta de diferentes partes de plantas. Depois a professora de química veio de se juntar, tratou com os alunos dos elementos para dar liga na tinta, como álcool, água e cola”, conta Maiara. 

O lado artístico acabou sendo a culminância do projeto, batizado de PigmentArt. “A gente teve uma conversa sobre a qualidade das tintas, sobre as técnicas de aquarela, os cuidados para não deixar o papel muito encharcado. Eles fizeram marcação a lápis antes e mostrei que não era bom começar muito perto da linha, porque a tinta vai se espalhando”, diz a professora. Nas aulas de artes, também estudaram sobre a britânica Margaret Mee (1909-1988), artista botânica que se especializou em plantas da Amazônia brasileira.

Todas as obras dos alunos foram expostas no colégio. As notas foram pelo engajamento e participação; cada professora fez sua própria avaliação, de acordo com os objetivos da sua disciplina.

Maiara ressalta que, mesmo no ensino médio, com a pressão por notas e vestibulares, pinturas e outras atividades das aulas de arte, como a aquarela na escola, conseguem engajar os estudantes. 

“Eles gostam da minha aula, porque eu não foco na parte teórica, vou mais para a prática. Claro que tem um momento de conversa, de entender um contexto histórico, uma apresentação, mas dou sempre atividades mão na massa, de criação. Eles já têm uma sobrecarga de tarefas nas outras matérias, mas também aprendem com as artes, de forma mais leve”, diz. 

Autora: Luciana Alvarez

*Conteúdo produzido e editado pelo Porvir

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