Início » Reportagem > Neurociência e Criatividade

Como a família pode contribuir com o desenvolvimento da criatividade na infância?

As professoras e os professores da Educação Infantil não são os únicos responsáveis pelo desenvolvimento da criatividade durante a infância. Os familiares da criança, sobretudo aqueles que moram com ela, exercem um papel fundamental na hora de contribuir com a evolução dessa habilidade. 

Ainda na infância, é importante proporcionar um ambiente adequado e repleto de estímulos com texturas, cores,  sons e objetos para que as crianças explorem o seu potencial criativo. Isso é o que faz a professora de musicalização para bebês Fernanda Castro, que dá aulas na zona oeste de São Paulo (SP). 

Nas atividades, a música é utilizada como uma ferramenta para sensibilizar e estimular as crianças não só a partir do som, mas com a textura e o peso dos objetos, com as vibrações, entre outros elementos. 

“À medida que essa criança já aprende a andar, ela vai fazer [a atividade] de mãozinha dada com a mãe e, depois, ela vai conseguir fazer a mesma atividade sozinha”

Para isso, até os três anos de idade, é obrigatória a presença de um adulto referência, seja um pai, mãe ou avô. A educadora conta que a presença desse cuidador exerce dois papéis: o primeiro de criação do vínculo entre o bebê e esse adulto; e o segundo é justamente mediar a experiência. 

“Então se é um bebê pequenininho de colo, ele vai receber esse estímulo através do colo da mãe”, explica Castro. “À medida que essa criança já aprende a andar, ela vai fazer [a atividade] de mãozinha dada com a mãe e, depois, ela vai conseguir fazer a mesma atividade sozinha”, explica. 

Vínculo de segurança e confiança

Para Carolina Rodeghiero, coordenadora pedagógica da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa e pesquisadora do grupo Lifelong Kindergarten do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos EUA), o engajamento nesse processo dá segurança para a criança tentar soluções inusitadas e criativas para os problemas que ela encontra, além de deixá-la à vontade para expressar suas habilidades.

“Uma casa criativa é um ambiente em que o espaço e a dinâmica de relacionamento permitem à criança se sentir confortável para errar, se divertir brincando, aprendendo, reconhecendo o desenvolvimento do pensamento criativo, especialmente fora da escola”, completa Rodeghiero.

A família pode contribuir, principalmente, de duas maneiras: estruturando o ambiente e desenhando oportunidades de exploração. E estruturar o ambiente significa desde configurar o espaço físico para que ele ofereça diversos estímulos, como livros, instrumentos musicais e materiais para desenhos, até criar oportunidades de socialização (com outras crianças e membros da família), de expressão dos sentimentos e de escuta.

“Uma casa criativa é um ambiente em que o espaço e a dinâmica de relacionamento permitem à criança se sentir confortável para errar, se divertir brincando, aprendendo, reconhecendo o desenvolvimento do pensamento criativo, especialmente fora da escola”

Outra forma, segundo Rodeghiero, seria estar mais presente no processo de aprendizagem na escola. Perguntar à criança o que ela criou, com quem colaborou e quais seus interesses pessoais é uma boa saída. Além disso, é importante apoiá-la nos momentos de frustração para que ela aprenda a lidar com os erros.

Para Castro, a dica é não limitar a criança. “Não existe só uma forma de pintar o desenho, não precisa ser de uma cor certa. Você não precisa tocar a música e dançá-la em um passo específico. Essa liberdade de explorar livremente as linguagens é um bom caminho”, completa.

Possibilidades para experimentar 

No projeto Ser Criança é Natural, idealizado em 2013 pela pedagoga Ana Carol Thomé, os cuidadores são responsáveis por fazer boas mediações entre o mundo e a criança. A partir de experiências para as crianças e de formações para os adultos, a iniciativa contribui para a construção de vínculos, o fortalecimento da confiança e a experimentação criativa. 

“Uma outra parte dessa mediação do mundo é a gente criar um vínculo de segurança com a criança, mas não um vínculo que vá ser de dependência”, explica Thomé. “Como é que a minha presença ali [com a criança] vai incentivá-la de forma a experimentar, e não a inibir, a experimentação dela?”

Para a pedagoga, é difícil definir um parâmetro universal do quanto o adulto está ou não reprimindo a liberdade e a autonomia do sujeito na infância. “O que é risco para uma criança pode não ser risco para outra. Por exemplo, uma criança pode subir na árvore e isso ser perfeito, e para outra criança simplesmente subir na raiz da árvore já vai ser um super desafio”, compara.

Thomé sugere que a família observe muito a criança e conheça seus movimentos, saiba do que ela é capaz, como ela se desloca e no que ela costuma reparar. Assim, é mais fácil garantir a segurança e entender quais são seus limites — e quais a criança pode ultrapassar. 

Autora: Aline Naomi

* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir

Saiba mais sobre criatividade em família, neste vídeo preparado pela Faber-Castell Edux em parceria com Bianca Solléro:

mais posts