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Como trabalhar arte na escola de forma interdisciplinar

Em nosso dia a dia, a arte não está presente apenas nos museus e nas galerias, mas também está no design dos objetos e na música que escutamos a caminho do trabalho. Da mesma forma, a arte na escola não está isolada. Muito pelo contrário: ela se relaciona com praticamente todos os componentes curriculares. 

Andréa Ortiz é professora de educação tecnológica do Instituto Marcos Freitas, no Rio de Janeiro (RJ), e vê relação entre seu campo de atuação e a arte. “A arte precede até o ensino da tecnologia, porque eu não consigo conceber um projeto tecnológico e construí-lo sem antes pensar”, conta a docente.

Isso porque, ao pensar em um projeto, os alunos usam a criatividade para imaginar o que pode ser construído e como pode ser construído, o que tem tudo a ver com o pensamento artístico. Para Andréa, é possível trabalhar qualquer habilidade, competência ou conceito por meio da arte.

“A arte também é uma forma de entender como as crianças enxergam o mundo”

A arte também é uma forma de entender como as crianças enxergam o mundo. A professora exemplifica isso com uma atividade simples: em uma turma de primeiro ano do ensino fundamental, ela mostrou um vídeo que contava sobre o porquê de o céu ser azul. Para saber se os alunos aprenderam os conceitos, ela pediu para a turma fazer desenhos que retratavam o que eles tinham compreendido. 

Para os estudantes mais velhos, como os do Ensino Médio, a arte também é fundamental, apesar de ser eletiva. “A arte fica como uma matéria eletiva, fora do obrigatório, e aí você fica com estudantes engessados, crianças que não são criativas. Mas o próprio Enem pede criatividade, pede um novo olhar”, comenta a pedagoga. 

A arte na BNCC

Priscilla Vilas Boas, redatora da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) dos ensinos Fundamental e Médio no componente de Arte (3ª versão), explica que a arte aparece no documento dentro da área de linguagens. Ou seja, ela é uma forma de desenvolver comunicação no mundo, seja por meio da dança, do teatro, da música ou das artes visuais.

Essas quatro expressões, inclusive, são as unidades temáticas do componente curricular em questão. “A arte, diferente das línguas, tem um jeito de se comunicar que é por meio dos gestos, de músicas, da teatralidade, da corporalidade, da maneira como as pessoas se colocam no espaço e se afetam por ele”, diz a especialista. 

Trabalhar a arte de forma interdisciplinar é uma orientação da BNCC, que dá ênfase para a relação entre os componentes curriculares. Mas não só isso: trazer a arte em outros componentes curriculares aproxima os estudantes dela em todas as suas formas.

“A arte está no mundo, então essa maneira de ver [o ensino da arte de forma interdisciplinar] possibilita uma maior articulação entre a arte e a vida. Tira um pouco essa ideia de que a arte pode ser executada apenas por artistas e especialistas e a coloca em um patamar que todas as pessoas podem acessar”, comenta Priscilla. 

Arte de forma interdisciplinar na prática

Mas como desenvolver esse trabalho com arte de forma interdisciplinar? Andréa orienta que o professor comece um assunto na sua aula trazendo sempre a arte para a conversa. “Geralmente o professor começa com pergunta e resposta. ‘Ah, o que você conhece sobre?’ A arte não é só desenho, ela é música, pintura, sinestesia, movimentos do corpo”, aconselha a professora.

É possível também usar a arte como forma de avaliação, o que ajudaria estudantes que podem não se destacar na leitura ou na escrita, mas vão bem no desenho e na representação gráfica de conceitos, por exemplo. “É utilizar a arte não para preencher o tempo ou interpretar, mas para inserir conceitos novos e fazer a avaliação”, provoca Andréa.

“Se a gente aprende através dos sentidos, e a aprendizagem é sensorial, eu acho que não tem outra forma de se aprender se não pela arte”

As possibilidades imaginadas tanto por Andréa quanto por Priscilla são várias: arte rupestre e esculturas em História; construção do corpo humano em Ciências; representação do sistema solar com robótica; a Matemática e as métricas musicais; artes visuais e arquitetura na Geografia; leituras de peças teatrais ou vídeo danças em Língua Portuguesa ou Língua Inglesa.

Priscilla acredita que a arte aumenta o repertório das pessoas sobre elas mesmas e sobre suas capacidades expressivas. “Tudo isso que a expressividade proporciona com certeza vai impactar o aprendizado dos estudantes”, adiciona. 

“A arte traz essa possibilidade de engajamento porque ela mexe com as emoções. E se a gente aprende através dos sentidos, e a aprendizagem é sensorial, eu acho que não tem outra forma de se aprender se não pela arte”, conclui Andréa.

Autora: Aline Naomi

* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir

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