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Com clube de desenho na escola, professor estimula o protagonismo de estudantes da rede pública

Se na famosa música ‘Aquarela’ Toquinho dizinha que ‘com cinco ou seis retas, é fácil fazer um castelo’, Jessé Geminiano Junior, professor de geografia do ensino médio na Escola Cidadã Integral Padre Ibiapina, em João Pessoa (PB), provou que estimular o potencial criativo dos estudantes pode render frutos que vão além de belos desenhos no papel. 

Desde o ano passado, Jessé foi convidado pelos estudantes para ser o padrinho do Clube de Desenho da escola, que promove reuniões, palestras e workshops sobre técnicas de desenho. A ideia é aproveitar as habilidades que os jovens já tinham e, ao mesmo tempo, incentivar o desenvolvimento de novas competências. 

Com um cronograma muito bem organizado, orientado inclusive por datas comemorativas da escola, os estudantes participam de encontros presenciais, exploram novas técnicas, trocam mensagens via grupo de WhatsApp, definem temas de forma coletiva e começam a produzir desenhos para publicar uma revista digital e impressa, a “Cores: Clube de Protagonismo da ECI Padre Ibiapina”. 

Com protagonismo e autoria, estudantes trazem novas ideias para a escola 

A proposta surgiu a partir do interesses dos próprios jovens, que foram estimulados a se reconhecerem como protagonistas dentro dos seus territórios, assim como prevê o Programa de Escola Cidadã Integral, novo modelo de escola pública implantado na Paraíba em 2016. 

Por lá, em consonância com o Plano Nacional de Educação e a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), disciplinas obrigatórias como português e matemática se unem a uma parte diversificada do currículo. Os estudantes podem escolher disciplinas eletivas a partir dos seus interesses e também têm acesso a componentes integradores, que incluem  Projeto de Vida, Estudo Orientado e Vivências em Protagonismo Juvenil, neste último entra justamente a proposta do Clube de Desenho da Padre Ibiapina. 

“O Clube foi criado devido ao desejo de desenhar, desenvolver técnicas, adquirir e compartilhar conhecimentos”

“O Clube foi criado devido ao desejo de desenhar, desenvolver técnicas, adquirir e compartilhar conhecimentos”, conta Rauene Narciso de Lima, estudante do 2° ano do ensino médio. “Mesmo fazendo parte do modelo das escolas cidadãs integrais, definir qual clube seria formado surgiu justamente do protagonismo dos estudantes, com base em seus interesses, sonhos e projetos de vida”, completa Jessé. 

Desenvolvimento de habilidades que vão além das técnicas de desenho 

Antes de participar do projeto, a maioria dos estudantes já se interessava por desenho. No entanto, com o apoio do professor, no clube eles encontraram um espaço para experimentar e se arriscar com as primeiras produções. Esse foi o caso de João Victor do Nascimento, do 2º ano do ensino médio, que criou e ilustrou sua própria HQ de super heróis com as técnicas que aprendeu na escola. 

“Desde bem novo, me interesso bastante por desenhos, mas não sabia desenhar. Um dia criei coragem e publiquei um desenho meu em um aplicativo de mensagens. Foi aí que o professor Jessé me convidou, em 2021, para participar do Clube”, conta o jovem, que atualmente é presidente do grupo. 

E não são apenas as habilidades técnicas e artísticas dos estudantes que são desenvolvidas enquanto eles participam das atividades do Clube de Desenho. Rauene, que entrou no grupo por indicação do irmão, conta que a experiência tem ajudado a aumentar suas notas, que já eram boas. “Eu comecei a desenhar para relaxar e desenvolver minha técnica e minhas habilidades artísticas.” No entanto, o projeto também ampliou o senso de participação, colaboração e criatividade do jovem. 

Para Jessé, é notável que os estudantes estão cada vez mais motivados, críticos e envolvidos com a revista. “É perceptível o entusiasmo, amadurecimento e interesse dos estudantes pelo projeto. Um deles relatou que nunca imaginou ter um desenho seu exposto em uma revista que foi divulgada para toda escola. Relatos assim nos motivam cada vez mais. É possível perceber que eles desenvolvem muitas habilidades: comunicação, liderança, autonomia, criatividade, senso crítico e colaboração”, enumera o professor. 

O segredo do sucesso 

Um aspecto importante para o sucesso da experiência do Clube de Desenho, que hoje conta com mais de 20 estudantes dos três anos do ensino médio, foi o encorajamento e apoio do professor. João Victor conta que, enquanto padrinho da turma, Jessé o ajudou com conselhos, motivando-o a continuar suas produções.

“Devemos estimular os estudantes a desenvolverem o protagonismo”

Rauene complementa ao afirmar que Jessé apoiou toda a coordenação dos processos. “Ele foi uma base bem importante pelo fato de estar sempre ajudando a cada edição da revista e dando apoio com os materiais usados para desenhar. Ele repassou os tutoriais de algumas técnicas e trouxe convidados para nos ajudar a aperfeiçoar nossos desenhos.” 

Para Jessé, é a partir dos desenhos que os alunos conseguem expressar seus sentimentos, ideias e vontades e, portanto, é fundamental que os educadores estejam dispostos a ouvi-los. Ele ainda dá um conselho para aqueles que desejam implementar iniciativas semelhantes em suas escolas: “Devemos estimular os estudantes a desenvolverem o protagonismo. Ser empático, ouvir suas ideias, ter uma boa comunicação, ser um mediador do conhecimento, um professor que se coloca como um facilitador e motivador da aprendizagem e que colabora ativamente para que o estudante alcance seus objetivos”, conclui. 

Autora: Maria Victória Oliveira
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.

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