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Como trazer inovação e criatividade para o planejamento pedagógico de 2023

No cotidiano escolar, o encerramento do ano letivo possui uma série de rituais: a divulgação dos boletins, a despedida dos colegas, o começo das férias de verão, entre outros. Já de olho no ano seguinte, também se inicia nesse momento um processo fundamental: o planejamento pedagógico.

Anualmente, professores de todo o Brasil participam de inúmeras reuniões de planejamento escolar e preenchem uma série de documentos para dar início ao ano letivo. No entanto, mais do que cravado em pedra, o planejamento deve ser um instrumento vivo para orientar a prática docente. Afinal, para além de ser uma demanda institucional da escola, este documento deve funcionar como uma bússola para guiar a aprendizagem durante todo o ano letivo.

“Ao longo dos anos, o planejamento pedagógico se tornou uma tarefa burocrática”, afirma Luciana Gama, mestre em Gestão Escolar, Gestão de Projetos e Design Thinking. “É algo que não é visitado, não tem uma função prática, e acaba virando um documento de gaveta.”

“Ao longo dos anos, o planejamento pedagógico se tornou uma tarefa burocrática”

Nesse cenário, como os professores, em parceria com a gestão escolar, podem tornar esse processo mais criativo, engajando os alunos e conectando o currículo com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular)?

Planejamento como um pacto colaborativo

“Olhar para o futuro – aonde eu quero chegar e o que preciso garantir que meus alunos saibam no final de 2023 – é um primeiro passo para a construção de um planejamento muito mais conectado com a realidade dos estudantes”, aponta Luciana, que cita a importância de trazer a BNCC para este processo. “Ela é um norteador que as escolas precisam olhar, pois traz habilidades e competências que precisam ser atingidas pelo estudante ao final daquele ano. Dessa forma, o planejamento ganha uma nova dimensão, se torna algo mais palpável e mais significativo para a prática da escola.”

O planejamento anual também é um momento propício para reunir a equipe pedagógica da escola em um processo de criação colaborativa. “A gestão precisa garantir um espaço onde se discuta como a gente ensina e aprende na nossa escola, quais ferramentas temos, qual é o nosso público-alvo, quem são os alunos que estão aqui. É importante pensar nessas estratégias e mapear tudo o que a escola oferecerá durante o ano, e esse processo se torna muito mais criativo quando você tem todos os professores trabalhando em conjunto, até para que eles entendam como um componente curricular pode ter intersecção com outro. Essa conversa interdisciplinar só acontece se a equipe estiver planejando junto.”

A especialista recomenda que esse planejamento seja um momento para os educadores compartilharem boas práticas e ideias inspiradoras. “Elas contribuem para que o planejamento seja inovador e criativo. Se o professor continuar engessado, ele vai fazer o que sempre fez nos últimos 20 anos. A intenção é que o documento não seja apenas uma lista de assuntos divididos por trimestre, mas se transforme em um plano de equipe, como um pacto”, define Luciana.

“A gestão precisa garantir um espaço onde se discuta como a gente ensina e aprende na nossa escola, quais ferramentas temos, qual é o nosso público-alvo, quem são os alunos que estão aqui”

É uma forma do corpo docente traçar estratégias em conjunto, como por exemplo intervenções, saídas de campo e ações pedagógicas interdisciplinares em efemérides. “Vira um documento de planejamento que dali a um mês será revisitado, e se houver novas ideias será incrementado, e isso na sala de aula é um gigantesco diferencial para motivar e engajar o aluno em seu percurso de aprendizagem.”

Volta às Aulas com Aprendizagem Criativa

A criatividade está entre as competências mais importantes para um profissional do futuro. É o que aponta o Fórum Econômico Mundial, agregando que a capacidade de criar, produzir ou inventar soluções para problemas do cotidiano é uma habilidade cada vez mais valorizada por organizações e empresas de todo mundo. Nesse cenário, os professores são agentes essenciais não apenas para estimular que seus alunos sejam criativos, mas também para quebrar o mito de que a criatividade é uma habilidade restrita a poucos. 

A RBAC (Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa) realiza, no início do ano letivo, a campanha Volta às Aulas com Aprendizagem Criativa, que apoia escolas com sugestões de atividades para a volta às aulas. A ideia é auxiliar no planejamento pedagógico de docentes que gostariam de promover a integração curricular com criatividade. 

“Quando a gente traz a perspectiva da aprendizagem criativa mais atrelada ao currículo, estimulando a visão de que qualquer ação precisa ser planejada e ter uma intencionalidade pedagógica, o que estamos propondo é a criação, junto aos docentes, de estratégias para olhar o currículo de uma forma mais relevante”, aponta Verônica Gomes dos Santos, coordenadora de Adoção Sistêmica da RBAC.

Planejamento aberto à escuta

Para ela, o melhor momento para atrelar a criatividade ao currículo é justamente no planejamento pedagógico anual. “Geralmente no início do ano, os professores estão muito abertos a conhecer coisas novas. Assim, é possível trabalhar o planejamento de uma forma diferente, com uma perspectiva mais inovadora, usando abordagens e metodologias ativas”, analisa. 

No entanto, ela reforça que não cabe construir um planejamento no começo do ano e achar que ele será executado tal como está no papel durante o ano inteiro. “É uma tomada de decisão que precisa ser muito articulada entre corpo docente e gestão escolar, porque precisa haver um espaço de reflexão sobre o que foi planejado e o que está sendo executado, sobre o que precisa aprofundar ou o que não tem mais necessidade”, pondera Veronica. “Esses espaços precisam ser previstos para o professor, seja dentro da escola ou nos espaços coletivos nas redes educacionais, e não somente de forma estanque, no começo e no final de ano, só para coletar o que deu certo e o que não deu.”

Verônica aponta ainda a necessidade desse planejamento estar aberto para a contribuição dos estudantes e de outros membros da comunidade escolar. “Quando se abre para a escuta, você cria uma corresponsabilidade, porque sai do formato de ‘professor entrega o ensino e o aluno consome’. Quando a gente muda essa chave, trazendo aspectos diferentes e compartilhando o planejamento com os próprios estudantes que fazem parte desse processo, essa aprendizagem é construída coletivamente. Os conhecimentos prévios e a postura dos estudantes – mais autores, criativos e protagonistas – também darão o tom desse planejamento”, finaliza.

* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.

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