Início » Artigo > Aprendizagem Criativa

Aprendizagem Criativa: experiências singulares de aprendizado não se restringem apenas à sala de aula

Antes mesmo de nos encontrarmos confinados em distanciamento, provocado pela pandemia de Covid-19, os limites de nossa sala de aula, enquanto espaço de aprendizagem, já precisavam ser revistos e, com certeza, não eram mais suas quatro paredes. 

Quando começamos a jornada do Thomas Maker com Aprendizagem Criativa e Ativa, nos idos de 2014, tínhamos uma preocupação muito grande com o espaço do fazer [makerspace], como se ele fosse a fagulha necessária para despertar o interesse do nosso aluno em um aprender diferente. Mas à medida que começamos a explorar os princípios do movimento do fazer em um contexto educacional, percebemos que mais do que ter um lugar, precisávamos ter o modelo mental necessário para fazer esse aprendizado  acontecer onde quer que fosse.  

Para nós, ficou claro que o nosso movimento deveria começar por nossa Biblioteca quando ouvimos o Educast, onde Heloísa Neves comentou que, ao começarmos o movimento do aprender ativo e criativo por ambientes como bibliotecas, salas de leitura e centros de recursos, estaríamos reforçando um posicionamento claro de que a forma de aprender havia mudado definitivamente.

“O movimento da Aprendizagem Criativa e Ativa não deve ficar restrito às salas de aula, devendo ser expandido para toda nossa comunidade” 

O movimento da Aprendizagem Criativa e Ativa não deve ficar restrito às salas de aula, devendo ser expandido para toda nossa comunidade, deixando evidente que a maneira de aprender em nossa escola, a partir daquele momento, passa a ser diferente. Um aprender comunitário, essencialmente social e transversal, onde os alunos são mais protagonistas e podem aprender fazendo, de forma colaborativa. E por assim ser, não poderia mais ficar limitado à sala de aula, apenas. É natural, então, que esse processo se dê a partir dos ambientes sociais e coletivos. 

Tirar o aprendizado da sala de aula e levá-lo de forma sistemática para a bibliotecas, corredores, pátios e makerspaces, não só abre espaço para trabalharmos a paixão e um propósito mais claro em projetos criativos, mas também potencializa oportunidades para despertarmos a motivação, o engajamento e expandir a possibilidade para que experiências únicas e singulares de aprendizado aconteçam. Toda a escola funciona como uma rede neural, onde a pergunta disparadora começa em um lugar, que leva à investigação em outro, que busca a criação da solução em outro e que culmina no compartilhamento a partir de um outro. Nada mais é pontual ou linear, tudo é ramificado, permitindo combinações infindáveis que dão liberdade ao protagonismo dos alunos.

“Tirar o aprendizado da sala de aula e levá-lo de forma sistemática para a bibliotecas, corredores, pátios e makerspaces, não só abre espaço para trabalharmos a paixão e um propósito mais claro em projetos criativos, mas também potencializa oportunidades” 

Sendo assim, para inovar e conseguir enxergar potencial ativo em todos os espaços, não podemos mais basear toda essa transformação em uma relação onde o ambiente modifica a pessoa, mas, sim, naquela onde a pessoa interage, modifica e transforma esses ambientes. Lev Vygotsky reforça essa ideia, ao defender que é a interação que os indivíduos estabelecem com seus ambientes que torna sua experiência de aprendizado pessoalmente mais significativa. E isso vale também para quem facilita essa interação. Professores, monitores, bibliotecários, especialistas maker passam a ter potencial transformador e precisam buscar desenvolver um modelo mental que enxergue essa relação como bilateral, onde todos aprendem, uns com os outros, e juntos. 

Mas como podemos começar um movimento de Aprendizagem Criativa e Ativa de conexão com esses espaços? Aqui vão 4 dicas: 

  1. Comece preparando sua equipe – não importa se é professor, monitor de pátio, bibliotecário ou especialista makerMitch Resnick ressalta que precisamos ajudar nossa equipe a compreender que essa nova forma de aprender criativo acontece em todo lugar e que seu papel agora é de catalisador [provocador de perguntas], consultor, conector e colaborador. Precisamos prepará-los para exercerem esse papel. 
  1. Comece a expansão pela biblioteca e até corredores – com a equipe preparada, conte com a ajuda dos bibliotecários para idear formas de começar ou terminar sua aula com momentos criativos e ativos na biblioteca: atividades de ativação, provocação, contextualização, compartilhamento e, havendo espaço, até mesmo o próprio fazer, são perfeitos para acontecer nesse ambiente. 
  1. Explore também os outros ambientes da escola – jardins, corredores, quadras e estacionamento devem ser uma extensão natural de sua sala. Você pode utilizá-los para descobrir problemas/desafios que precisam ser solucionados, podendo levar seus alunos a discutir e refletir sobre esses problemas, além de idear e prototipar soluções criativas. 
  1. Faça o mesmo no contexto online – o mesmo se aplica ao ambiente online. Convide o aluno a olhar de perto seu ambiente e extraia dessa exploração, por meio de perguntas investigativas, os insumos que o aluno pode trazer para seus projetos e atividades. Isso reforça o propósito e potencializa também o engajamento por meio da paixão dedicada às atividades propostas. 

Um conceito de espaços de aprendizagens que se alinha muito bem com essa percepção é o de David Starr-Glass, que os define como sendo locais dedicados (reais ou virtuais), propositalmente projetado pelo instrutor, no qual os alunos são convidados a se encontrar e se envolver na criação de conhecimento. Segundo ele, é neste ambiente que o facilitador sugere e incentiva os alunos a criar seu ambiente pessoal de aprendizagem exclusivo para um aprendizado ideal. 

É claro que o conceito de Starr-Glass foi concebido em 2016 para um cenário de ensino online, mas se apresenta tão atual, pois sim, o facilitador sugere e provoca os alunos, mas cada um conduzirá sua narrativa de aprendizado, de forma particular, não importando onde ela aconteça. 

* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.  

SORAYA LACERDA  

Bibliotecária de formação e educadora com P de paixão. Coordena desde 2015 o Thomas Maker, projeto de educação ativa e criativa da Casa Thomas Jefferson em Brasília. Trabalha também com formação de educadores por acreditar que um sistema educacional ativo e inovador se constrói a muitas mãos – e corações. Ama compartilhar o que sabe e não tem medo de dizer que não sabe algo, até porque adora aprender [fazendo] coisas novas todo dia! Contato: linktr.ee/soralina.

mais posts