Imaginação e realidade fortalecem o ativismo ambiental de crianças

Cuidar da biodiversidade do planeta é um assunto sério, mas nem por isso deve deixar de ser tema de discussão com os pequenos. Desde muito cedo ele…
LER MAISNa longa história da humanidade, a música existe há pelo menos 40 mil anos. Das flautas feitas com ossos às harpas e liras da Mesopotâmia, as evidências demonstram que, desde a pré-história, os seres humanos produzem música como consequência da observação dos sons da natureza.
De lá pra cá, a evolução da humanidade andou de mãos dadas com a evolução musical. Não é à toa que, em 2008, uma modificação na Lei de Diretrizes e Bases da Educação tornou obrigatório o ensino de música como disciplina escolar. Afinal, há um consenso científico sobre os impactos da exposição à música na infância, seja por meio da prática instrumental ou vocal: ela fortalece um conjunto específico de habilidades cognitivas e socioemocionais que são essenciais para o aprendizado.
“A música tem um papel central no processo de desenvolvimento infantil”, afirma Fernanda de Castro, flautista, educadora e idealizadora do Estúdio Rouxinol. “Hoje, ela é considerada uma atividade completa, já que quando fazemos música todas as partes do nosso cérebro trabalham em conjunto. É uma ferramenta poderosa para promover o desenvolvimento integral, facilitando toda a construção neurológica, relacional e sensorial que uma criança precisa para se desenvolver de forma saudável.”
Estímulo à criatividade e auto expressão
De acordo com pesquisas recentes sobre neurociência cognitiva, o aprendizado musical na infância reforça habilidades linguísticas, desenvolve e melhora a capacidade de leitura e fortalece a memória, o raciocínio e a atenção. Além disso, a atividade também trabalha competências socioemocionais, como a auto expressão, a imaginação, a sensibilidade e a relação com o outro.
A importância da musicalização na educação básica também é ressaltada pela Base Nacional Comum Curricular, que afirma que, dos primeiros anos da educação infantil até os últimos do fundamental, a música é uma das linguagens usadas pelos alunos para expressão e comunicação.
Na visão de Fernanda, por estar no terreno da arte, do lúdico e da beleza, a música pode ser uma grande aliada do processo de ensino e aprendizagem infantil. “Sabemos que as crianças aprendem melhor com experiências que tenham significado e façam sentido para elas. Assim, o professor pode utilizar a música para se conectar com seus estudantes, criando um ambiente de afetividade que promova a criatividade da criança, no qual ela se sinta livre e acolhida para se expressar, dizer quem ela é e se conectar com o mundo à sua volta.”
Música na infância estimula valores coletivos
Desde os tempos ancestrais, mais do que uma criação artística e criativa, a música já possuía um importante papel social, que incluía o fortalecimento da coesão dos grupos de caçadores-coletores e da sinalização de valores compartilhados entre eles. Esse papel segue em vigor até hoje.
“Por meio da música, a criança percebe e se relaciona com o mundo e com as pessoas à sua volta. Elas aprendem muito umas com as outras, observando, imitando. Existe uma troca muito bonita dentro de uma aula de música, onde as crianças têm a oportunidade de exercitar diferentes papéis, liderar, ser liderado, ouvir o outro, esperar, ter o momento de tocar e o momento de apreciar o que o outro está tocando”, reforça Fernanda.
Formação de caráter
Para além de explorar instrumentos, durante uma aula de música os professores podem trabalhar a psicomotricidade das crianças por meio de cantigas de rodas e parlendas, fazendo com que elas percebam que é possível fazer música utilizando o próprio corpo.
Por fim, a educadora cita uma frase do músico e filósofo japonês Shinichi Suzuki para reforçar a importância do contato com a música na infância: “o coração que sente a música irá sentir as pessoas”. Para ela, muito além de contribuir com desenvolvimento integral, a prática musical ajuda na construção do caráter e da identidade. “Quando ensinamos música, estamos contribuindo para um mundo melhor no futuro, com a formação de pessoas que vão fazer a diferença”, conclui Fernanda.
Autor: Danilo Mekari
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.
Cuidar da biodiversidade do planeta é um assunto sério, mas nem por isso deve deixar de ser tema de discussão com os pequenos. Desde muito cedo eles têm capacidade de compreender os problemas e sugerir soluções. Para isso, contudo, a escola deve aproveitar o potencial de imaginação natural da infância para estimular o ativismo ambiental de crianças.
Durante o início do ano letivo, a equipe docente da escola Fantasia, de Araraquara (SP), trabalhou com atividades do Programa de Aprendizagem Criativa da Faber-Castell, para fortalecer um projeto de educação ambiental que é realizado há 18 anos na escola. Na Jornada da Biodiversidade, as crianças puderam imaginar e desenvolver propostas com impacto real na cidade onde vivem.
“Em vez de falar do lado negativo e da capacidade humana de degradar, escolhemos mostrar o outro lado: o que nós temos a oferecer para fazer um bom uso da biodiversidade”, conta Karina Bramante, coordenadora do Ensino Fundamental da instituição.
As crianças começaram o processo explorando o que existe no município, desde recursos naturais até políticas públicas ambientais. Depois, em diálogo com as propostas dos micromundos de aprendizagem, passaram a imaginar o que poderia ser feito para transformar essa realidade.
Graças a uma parceria com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente, os estudantes também puderam saber mais sobre os desafios da sua região. A pedido da escola, equipes técnicas foram conversar com as crianças. “Eles contaram sobre os problemas que tiveram com as hortas comunitárias na cidade de forma muito honesta, e isso foi importante para que os alunos pudessem pensar em propostas depois”, conta a coordenadora.
A conexão entre o global e o local foi evidente em todas as fases do projeto para fortalecer o ativismo ambiental das crianças. Da mesma forma que elas assistiram a um vídeo sobre os perigos enfrentados pelas baleias no mundo, os biólogos de Araraquara discutiram os riscos dos gambás, que são importantes para a fauna local, mas às vezes invadem residências e são mortos por falta de conhecimento da população.
Pela proposta do Programa de Aprendizagem Criativa, contudo, não basta saber na teoria: as crianças precisam aplicar os conhecimentos em um projeto mão na massa. Na Aventura Criativa “Meu Povo, Minha Cidade”, por exemplo, crianças de 4 anos foram conhecer o sistema de reciclagem da cidade e fizeram entrevistas com o responsável da Secretaria do Meio Ambiente e com funcionários da limpeza do colégio. Para completar, eles produziram papel reciclado, que mais tarde foi usado em uma atividade da própria jornada.
“Eles fizeram todo o processo de reciclagem, usando sobras de papel de uma gráfica vizinha. No dia da jornada, os pais e as crianças escreveram recados nesses papéis. Eles deixaram feedbacks do que acharam do evento para compor um mural na escola”, explica a professora de arte, Júlia Felício. Nesse caso, as crianças conseguiram aproveitar resíduos que seriam descartados e aplicaram isso em algo útil para a comunidade escolar.
Essa foi apenas uma das atividades para fortalecer o ativismo ambiental das crianças. Da turma de 4 anos da Educação Infantil até a do 5o Ano do Ensino Fundamental, todos puderam contribuir com o evento. “Cada sala construiu algo próprio, mas os projetos conversavam entre si. Os pais vieram para a escola não só para ver o trabalho dos filhos, mas a apresentação completa, porque era uma jornada de verdade. E as crianças ficaram muito empolgadas com o resultado global”, diz Júlia.
Outro diferencial foi o protagonismo dos alunos, que foram os idealizadores e os “fazedores” de todo o evento. “Tinha a mão dos alunos em tudo: no convite, na divulgação com vídeos no Instagram e até no folheto explicativo entregue às famílias. Eles participaram muito, em todas as fases”, ressalta Naíma Rocha, consultora educacional da Faber-Castell.
Para as educadoras, porém, o mais importante não foi o evento em si, mas os aprendizados que ele promoveu. “A gente espera que eles carreguem essa consciência ambiental para a vida. Ainda ontem uma aluna veio falar comigo sobre o que temos que fazer na praça que a escola adotou”, conta Karina, ao mencionar que durante a jornada a escola assumiu o compromisso de cuidar de uma praça de Araraquara. “Também sei que vários estudantes continuam falando com os pais sobre o IPTU Verde, para convencer eles a instalarem painéis solares (o município dá desconto no valor do imposto para quem adotar algumas medidas de sustentabilidade)”, cita Karina.
Com os estímulos certos, essa é uma geração que desde cedo está se engajando no ativismo ambiental, reforça a coordenadora. “Percebo que eles têm uma boa capacidade de interagir, questionar e promover visões diferentes para um mesmo problema. São habilidades úteis nas disciplinas escolares e também para a vida”, conclui.
Autora: Luciana Alvarez
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.
Desde 2003, completando exatos vinte anos, várias cidades brasileiras celebram o Dia da Consciência Negra em 20 de novembro. Essa data foi instituída pela Lei 10.639, que também tornou obrigatório o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira nas escolas do país.
Esse período pode ampliar projetos, ações e práticas, mas a discussão não deve se limitar apenas ao mês de novembro. O fortalecimento da educação antirracista precisa ser um compromisso diário em todas as escolas do país.
Para inspirar educadores a trabalhar a consciência negra todos os dias, reunimos a seguir práticas pedagógicas que fortalecem a educação antirracista por meio da aprendizagem criativa. Confira:
Trançando Histórias
Ao iniciar seu trabalho no Centro Integrado de Educação Pública Brasil-China, em Duque de Caxias (RJ), a professora Cleide Magesk logo se surpreendeu com a quantidade de estudantes que, assim como ela, eram negros e tinham seus cabelos trançados. “É algo difícil de ver: tanto no contexto do aluno, ver um professor parecido com você, como no meu contexto. Foi empatia à primeira vista”, afirma Cleide.
Foi então que, no segundo semestre de 2022, ela criou o projeto “Trançando histórias”, aplicado na turma de primeiro ano do Ensino Médio. Tendo como mote a prática milenar de trançar os cabelos, ela trabalhou pesquisa, valorização da identidade e ancestralidade. “Os estudantes se sentiram representados no projeto. Tem essa característica de a gente estar se vendo nele”, relata a docente.
Desconstruir o preconceito atrelado ao uso da trança também era um dos objetivos da iniciativa. “Queria trazer para a sala de aula todo o conhecimento de família sobre as tranças, buscando de onde vem a trança, qual a ideia de ancestralidade que está por trás dela, por que trançar era tão importante. Tudo isso conectado com a estética negra.”
O projeto foi dividido em duas frentes: a de pesquisa documental e literatura negra, que deu origem a um podcast realizado pelos estudantes; e a mão na massa, com foco artístico, de trançar bonecas africanas inspiradas nas próprias tranças dos estudantes. Ainda, trancistas profissionais foram convidadas a falar sobre seus trabalhos em sala de aula.
“A escola estava tendo grandes índices de evasão. Após o ‘Trançando Histórias’, os alunos estão faltando menos, pois estão se vendo no projeto, que trabalha várias habilidades a partir de algo que eles já conheciam previamente. Vejo que eles sentem orgulho e querem continuar o nosso projeto”, conclui Cleide.
Conheça mais sobre o projeto Trançando Histórias.
Personalidades Negras
Professora de história e geografia da Escola Parque (RJ), Haianna Lima sentia um grande incômodo ao se deparar com materiais escolares que apresentavam a população negra a partir do viés da escravização. “Como mulher negra e militante antirracista, não me permiti apresentar aos meus estudantes a população preta dessa forma”, relembra.
“Assim surgiu a iniciativa ‘Personalidades Negras’ no ano de 2021, que passou a apresentar pessoas pretas “invisíveis na história desse país, a partir da potência desse povo”. Como a escola ainda estava em funcionamento híbrido, por conta da pandemia, a maneira mais fácil de reunir a produção dos estudantes dentro deste tema era também por meio digital, e com isso o projeto publicou um site e um podcast.
Hoje, a iniciativa segue em vigor. “As turmas seguintes acessaram o site, e deles vão surgindo outras ações. É uma sequência que dá continuidade ao que já foi feito”, analisa a docente. Ela também avalia o impacto que o projeto causou em seus pares: “Eles se sentem mais preparados, abertos e dispostos a fazer com que as crianças entendam a população preta a partir de outro ângulo.”
Conheça mais sobre o projeto Personalidades Negras.
Negritude em Versos e Imagens
Em sua época de estudante, o professor de geografia Lucas Ferreira sentia falta de ver a cultura negra, as riquezas e conquistas do povo preto apresentadas nas aulas e nos materiais escolares. Para evitar que o mesmo problema se repetisse aos seus alunos na EMEF Campos do Cristal, em Porto Alegre (RS), o docente elaborou um projeto que une fotografia, poesia e estética negra: o “Negritude em Versos e Imagens”.
No último trimestre de 2022, a iniciativa foi aplicada em sua turma de nono ano. Lucas buscava uma ideia simples, mas que causasse impacto: selecionou poemas de escritores negros e estimulou seus estudantes a fazerem ensaios fotográficos uns dos outros, com base naquele material. “A baixa autoestima é um elemento bem presente na vida dos jovens negros”, observa o professor. “Eles não se enxergam como bonitos, e depois das fotos viram que possuem uma beleza única.”
Ao ter como foco do trabalho a expressão artística, o projeto trouxe um grande impacto no que tange a representatividade preta. “É como se fosse um grito: estamos aqui, somos bonitos, existimos, podemos ocupar outras páginas de jornais e revistas que não sejam as policiais.”
Por fim, o professor acredita que as discussões sobre identidade negra e antirracismo na escola e na sociedade deveriam ir muito além de um mês específico no calendário. “A consciência negra é todo dia. Não ficamos encaixotados e aparecemos somente em novembro, estamos vivos e trazendo contribuições. A luta contra o racismo nao é só do negro, é de todos.”
Conheça mais sobre o projeto Negritude em Versos e Imagens.
Autor: Danilo Mekari
* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.
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