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Carolina Luvizoto: ‘A Aprendizagem Criativa é potente para desenvolver habilidades cognitivas e não cognitivas’

A criatividade não é algo exclusivo de artistas. Nos dias de hoje, o pensamento criativo é fundamental para ter ideias, materializá-las e lidar com os imprevistos no meio do caminho. E, como qualquer competência, ela pode — e deve — ser desenvolvida nas escolas.

Por isso, surgiu o Programa de Aprendizagem Criativa da Faber-Castell, que oferece um conjunto de estratégias alinhadas à BNCC (Base Nacional Comum Curricular) para as escolas estimularem a inovação, a criatividade, a resolução de problemas e a diversão.

Para falar sobre ele, conversamos com Carolina Luvizoto, gerente de Educação da Faber-Castell. Bióloga de formação, ela construiu sua vida profissional na educação e há 16 anos trabalha com a implementação de projetos educacionais. 

Há cerca de cinco anos, iniciou seus estudos em criatividade, com foco nas escolas e, em 2018, passou a integrar o time da Faber-Castell. 

O que seria o Programa de Aprendizagem Criativa da Faber-Castell e como ele funciona?

Carolina Luvizoto: O Programa de Aprendizagem Criativa é um programa curricular que tem como objetivo o desenvolvimento do pensamento criativo em crianças e jovens de três a 14 anos, da Educação Infantil ao Ensino Fundamental. 

Nas crianças menores, a ideia é criar bases que vão se consolidando, à medida que elas avançam nos anos de escolaridade, para que tenhamos, ao final da educação básica, jovens que pensam criativamente de uma forma mais organizada e estruturada. 

Para que uma pessoa seja, de fato, criativa, ela precisa fazer uso de uma série de outras habilidades, sejam elas cognitivas ou não cognitivas. Ou seja, quando eu falo de criatividade, necessariamente estou falando de colaboração, de resiliência, de flexibilidade, de repertório.

“Para que uma pessoa seja, de fato, criativa, ela precisa fazer uso de uma série de outras habilidades, sejam elas cognitivas ou não cognitivas”

Acervo Faber-Castell

O Programa [de Aprendizagem Criativa] segue as habilidades e competências previstas na BNCC. Isso significa que cada atividade e cada exploração que os estudantes fazem potencializam o desenvolvimento de habilidades que já são previstas pelo documento.

A ideia é que ele possa entrar na grade horária. O que acontece com muita frequência é as escolas instituírem inicialmente um horário na semana para fazerem os projetos de Aprendizagem Criativa e, à medida que elas vão avançando, inclusive em relação à formação dos professores, elas começam a entender que isso pode ser mais amplo do que um horário estanque na grade.

No Programa, entregamos para o professor um material que ele pode consultar para se orientar e ter conteúdo para trabalhar. Entregamos também um material para a família ou para o aluno, dependendo da faixa etária — quando falamos das crianças de 3 a 5 anos, o material é da família e, a partir dos 6 anos, ou do primeiro ano do Ensino Fundamental, esse material é diretamente do aluno.

Além disso, nós temos um plano de formação estruturado para trabalhar os princípios e as premissas da Aprendizagem Criativa com os professores. Temos ações de formação de início de ciclo, todo começo de ano, e temos ações de formação continuada. Ao todo, acontecem de seis a dez formações durante o ano. 

Há também uma oficina para os pais. Nossa ideia é que, de fato, possamos envolver as famílias nesse processo, visto que o desenvolvimento criativo não depende só das ações nas escolas, mas depende também do envolvimento da comunidade. 

Por fim, entregamos um conjunto de itens da Faber-Castell para que eles possam usar nas prototipações que eles forem fazendo. Se os alunos estiverem fazendo o planejamento do protótipo que eles vão construir, eles têm material para fazer esse planejamento. 

Qual é a duração do Programa?

Por ser curricular, ele é organizado para dar conta de um ano letivo, mas ele não tem uma duração definida. Visto que, para cada ano escolar temos habilidades específicas definidas pela BNCC, cada ano tem os próprios projetos a serem trabalhados.

Portanto, tem escola que opta por ficar mais tempo, justamente para ir se apropriando do conteúdo, e outras que ficam menos tempo. Podemos ter uma escola conosco por dez anos, por exemplo, com as crianças trabalhando em diferentes projetos ao longo desse tempo.

Quais são os maiores desafios das escolas quando o assunto é a Aprendizagem Criativa?

Quando olho para a Aprendizagem Criativa como uma abordagem educacional que vai me ajudar a desenvolver e potencializar habilidades nas crianças e nos jovens, tem uma mudança na prática do professor. 

Ele precisa olhar para o que ele fazia e pensar: “Agora eu tenho que fazer diferente. E como eu vou fazer diferente?”. E, por vezes, esse salto parece grande para os professores, então um dos desafios que temos no processo de implementação é justamente mostrar a eles que aquilo não é algo a mais que eles estão fazendo, mas uma outra maneira de fazer o que eles já faziam. Por esse motivo, o plano de formação de professores é tão importante.

“Precisamos criar uma educação que seja suficientemente envolvente para as crianças e os jovens e que garanta o desenvolvimento das habilidades”

Acervo Faber-Castell

Precisamos criar uma educação que seja suficientemente envolvente para as crianças e os jovens e que garanta o desenvolvimento das habilidades. Por isso, essa questão da mudança de prática é um dos desafios e esse processo formativo constante é importante. Formativo e mão na massa, para que eles entendam isso em primeira pessoa. 

Poderia aprofundar a importância da Aprendizagem Criativa para esse estudante dos tempos de hoje?

Quando pensamos no desenvolvimento da Aprendizagem Criativa, tem alguns princípios, que são os quatro Ps que Mitchel Resnick traz para nós — projetos, paixão, pares e pensar brincando. Eles, por si só, trazem um bocado de outras habilidades que acabam sendo, de alguma maneira, utilizadas no desenvolvimento das atividades.

Para estruturar um projeto que seja significativo para eles, ou seja, que tenha o P da paixão, eles podem desenvolver para eles, mas eles podem também desenvolver para o outro. E se eles estiverem desenvolvendo para o outro, é preciso olhar qual é a necessidade da outra pessoa e quem ela é. 

Quando olhamos para o P de pares, ele tem a ver com a colaboração. É entender o processo do aprender como algo social e coletivo. E colaborar não necessariamente quer dizer sentar em dupla em uma sala de aula. Pode ser cada um no seu computador, desenvolvendo seus próprios projetos, mas entendendo que a opinião do outro é importante. 

Quando olhamos para o pensamento criativo em si, quanto mais repertório diverso eu tenho, de qualquer natureza, maior é minha capacidade criativa. Quanto mais eu consigo entender que a opinião do outro é importante, maior é o potencial criativo que eu posso desenvolver. Quanto mais flexibilidade eu tiver, provavelmente melhores serão os meus projetos e as minhas criações.

Como as escolas podem se beneficiar da aplicação da Aprendizagem Criativa e quais as potências que podem ser aproveitadas por elas?

Quando olhamos para a ONU, instituindo o Dia Mundial da Criatividade e Inovação para fomentar uma agenda de desenvolvimento criativo nos países, ou vemos a OCDE,  por meio do PISA, trazendo o pensamento criativo para a avaliação, ou olhamos para a BNCC, trazendo, na segunda competência, pensamento criativo, isso por si só já é interessante. 

As escolas precisam se organizar para garantir o desenvolvimento dessas habilidades e das competências que entendemos que são importantes para os dias atuais e para o futuro próximo.

“As escolas precisam se organizar para garantir o desenvolvimento dessas habilidades e das competências que entendemos que são importantes para os dias atuais e para o futuro próximo”

Acervo Faber-Castell

Ter um Programa de Aprendizagem Criativa que ajuda a garantir todas essas coisas que estão sendo ditas é muito importante, inclusive para o desenvolvimento das crianças e dos jovens. 

Quando olhamos para as potências das escolas, existem muitas práticas hoje que, de alguma maneira, passam por processos criativos. Partindo de algumas práticas que elas já têm e trazendo isso de forma sistemática e intencional, as escolas conseguem abarcar a Aprendizagem Criativa. 

É preciso uma mudança de prática. Quando as escolas viram a chave de verdade e começam a entender a Aprendizagem Criativa como um fazer diferente para desenvolver habilidades, elas começam a expandir o olhar sobre como elas trabalham seus projetos. 

Temos uma escola parceira em Sorocaba (SP) que estava trabalhando um micromundo [de aprendizagem] nosso, chamado “Jovens Arquitetos”. Esse micromundo fala sobre uma forte chuva que teve em uma comunidade, e as pessoas perderam suas casas. As crianças precisavam entender quem eram essas pessoas para criar abrigos temporários em que elas pudessem morar. 

A escola pediu para fazer uma adequação desse micromundo. O projeto cresceu e, de dois meses, passou a durar seis meses. No meio do primeiro mês, ele se tornou um projeto do 1º ao 9º ano. Eles chegaram a construir protótipos em tamanho suficientemente real para as crianças entrarem. 

A Aprendizagem Criativa é, sim, potente para desenvolver habilidades cognitivas e não cognitivas de uma maneira diferente da tradicional. Quando esse entendimento é internalizado, isso se torna uma potência para as escolas. 

É bem potente pensar no quanto a Aprendizagem Criativa é uma abordagem acadêmica que pode ser transposta para a sala de aula de uma maneira muito interessante para o desenvolvimento das habilidades. E o que o Programa de Aprendizagem Criativa da Faber-Castell fez foi garantir a possibilidade dessa abordagem ser totalmente executada em qualquer sala de aula. 

Autora: Aline Naomi

* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir

Saiba mais sobre o Programa de Aprendizagem Criativa, neste vídeo preparado pela Faber-Castell Edux em parceria com Bianca Solléro:

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