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Como usar a tecnologia na educação para engajar os estudantes

A pandemia do coronavírus e a suspensão das aulas presenciais acelerou a adoção de ferramentas digitais por professores de todo o país. Se, por um lado, esses educadores passaram a conhecer uma vasta gama de recursos, por outro cresce a necessidade de engajar os alunos e motivar a aprendizagem. Diante desse desafio, como usar essas ferramentas com intencionalidade pedagógica para obter melhores resultados? 

BNCC (Base Nacional Comum Curricular) já traz a necessidade de desenvolver a cultura digital nas escolas, isto é, a compreensão e utilização de tecnologias digitais de forma crítica, significativa e ética. Essa visão é bastante diferente da lógica de instrumentalização que havia quando os laboratórios de informática foram inseridos nas escolas pela década de 1990, por exemplo.  

“Quando chegaram os computadores nas escolas, elas adquiriram um laboratório de informática e existia um momento ali de instrumentalização, de os alunos aprenderem a usar ferramentas tecnológicas. Daí surgiu a disciplina de informática nas escolas”, explica o professor Tiago Cunha, Google Innovator e especialista em integração tecnológica. “Agora a questão é até que ponto estamos ensinando a usar tecnologia e passamos a ensinar com tecnologia.”

“Agora a questão é até que ponto estamos ensinando a usar tecnologia e passamos a ensinar com tecnologia” 

Tiago lembra que no início da pandemia houve essa necessidade de instrumentalização para que os professores se familiarizassem com as ferramentas digitais, mas agora o foco é outro. “Eles estão procurando formas diferentes de engajar seus alunos. Eles querem utilizar o conhecimento da instrumentalização que foi adquirido nos últimos meses, que não foi pouco, para ressignificar o uso da tecnologia na sala de aula”, observa. 

Esse foi o desafio de Marcelo Costa, professor de Educação Física no Colégio Estadual Emílio de Menezes, em Curitiba (PR). No início, as atividades foram disponibilizadas pelo Google Classroom e as aulas eram lecionadas pela plataforma de videoconferência Google Meet. O professor acabava reproduzindo a aula presencial no virtual, e isso não estava sendo eficaz. “Era eu falando um conteúdo para 40, 50 estudantes, e eles só ouvindo do outro lado. Eles não estavam preparados para esse modelo, e nós não sabíamos como aumentar a interação com eles”, explica.  

Página da revista virtual que os alunos de Marcelo produziram durante a aula (Crédito: arquivo pessoal de Marcelo Costa)

A tendência a reproduzir um modelo conhecido de aula no meio digital não é exclusiva dos professores, como aponta Maria Alice Carraturi, doutora em educação pela USP (Universidade de São Paulo) e organizadora da Base Nacional Comum de Formação Docente. “Quando vamos usar uma nova ferramenta, usamos os conhecimentos que temos. O que conhecemos como aula é um professor falando e os alunos ouvindo, e quando vamos para qualquer meio tecnológico, tendemos a repetir esse modelo conhecido”, comenta. 

Novos formatos no ambiente digital  

No caso do professor Marcelo, por ser de Educação Física, ele sentiu a necessidade de desenvolver uma atividade para seus alunos se movimentarem, principalmente por conta do contexto de isolamento social que favorece o sedentarismo. A partir de uma videoaula sobre esportes de rede que sugeria a construção de raquetes de tênis, tênis de mesa ou badminton (esporte que lembra uma junção de tênis e vôlei de praia), o educador teve a ideia de propor uma atividade mão na massa para a turma.  

Raquetes construídas pelos estudantes durante as aulas remotas (Crédito: arquivo pessoal de Marcelo Costa)

Marcelo elaborou o planejamento do conteúdo e da produção desses materiais. Primeiro, ele fez o passo a passo em casa, depois demonstrou  aos estudantes. A atividade fez muito sucesso entre os alunos, e o professor recebeu fotos, vídeos. Houve até a participação de familiares. “Eu recebi uma foto de uma mesa de jantar que se tornou uma mesa de tênis de mesa, então além de o estudante se movimentar, ele também brincou com os demais membros da família.”  

Desde então, Marcelo já propôs que os alunos produzissem um vídeo educativo sobre esgrima com a rede social de vídeos TikTok. O professor teve até apoio de um aluno que usava a plataforma para compartilhar seus conhecimentos com os colegas. A turma também produziu uma revista virtual sobre esportes de aventura no Jamboard, lousa digital do Google. No final, ele pediu feedbacks aos alunos para saber como foi a atividade para eles e saber se estava no caminho correto.

Conexão entre o conteúdo e a vida dos alunos 

Ao trabalhar em um contexto de aulas remotas, Maria Alice reforça que é necessário dar sentido ao conteúdo que está sendo trabalhado e relacioná-lo com o cotidiano e o contexto da turma. “Muitas vezes aquilo que propomos não é de interesse do aluno porque ele também não sabe como aquele conhecimento pode ser importante para ele. O conhecimento precisa fazer sentido”, destaca. Outro ponto importante é o sentimento de pertencimento. “Apesar da distância, o estudante precisa sentir que ainda tem vínculo com a escola e com os professores. Isso dá um certo conforto e acolhimento emocional, principalmente com as crianças menores.”

“Apesar da distância, o estudante precisa sentir que ainda tem vínculo com a escola e com os professores” 

Tiago pontua que o acolhimento também passa por escolher ferramentas levando em conta o acesso que os alunos têm à internet e a dispositivos como computador ou celular. “Diante dessas listas de aplicativos, o professor precisa ver o que faz sentido para a comunidade escolar.” Ele ainda exemplifica que, se o que faz sentido para uma determinada turma é receber atividades pelo WhatsApp, apesar de não ser o ideal, já que existem ferramentas muito melhores para se distribuir e conversar sobre o conteúdo, é essa ferramenta que você vai usar naquele contexto.

No fim, o que mais ajudou Marcelo a inserir as ferramentas tecnológicas em suas aulas e conseguir o engajamento dos alunos foram o planejamento das aulas e a intencionalidade pedagógica dos recursos usados. “Primeiro, o professor tem que planejar para entender o seu objetivo e, com isso, ver qual seria a melhor ferramenta. Quanto maior o conhecimento do professor sobre as ferramentas, melhor ele sabe qual utilizar para atingir seu objetivo”, aconselha.  

Autora: Aline Naomi

* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.  

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