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Dia dos professores: Qual foi sua aula mais criativa?

Em vez de repetir as mesmas fórmulas ano após ano, muitos professores gostam de soltar a imaginação e criar processos de ensino-aprendizagem inovadores. Dessa forma, eles também estimulam a criatividade dos estudantes e trazem elementos diferentes para seus projetos pedagógicos. 

Para comemorar o Dia dos Professores, o Blog da Faber-Castell Edux ouviu educadores de diferentes etapas, da Educação Infantil à EJA (Educação de Jovens e Adultos), que responderam à pergunta: “Qual foi a sua aula mais criativa?” 

Longe das receitas prontas, eles compartilharam experiências exitosas que podem ser inspiradoras e projetos que os fizeram se sentir realizados com a profissão docente. Confira!

Aprender e cuidar do meio ambiente

Experiência de Alcioline Rachel Ferreira 

Professora da Educação Infantil na Escola Crescimento, em São Luís (MA)

Os alunos da professora Alcioline têm apenas 5 anos de idade, mas ela busca estar sempre atenta no que pensam e sentem. Ao mostrar para a turma imagens do impacto causado pela poluição nos rios e oceanos, percebeu o quanto as crianças ficaram impressionadas. “Além das imagens, que marcaram muito, também li algumas notícias e percebi a preocupação delas”, conta. Levou então para sala de aula experiências sobre salinização e elevação do nível do mar. 

Mas não parou por aí. Durante as rodas de conversa, notou que as crianças queriam agir. Cabia a ela apontar caminhos. Foi assim que, durante um planejamento coletivo, as cinco professoras das turmas de Educação Infantil organizaram um projeto com atividades diferentes, mas sempre com a participação ativa dos pequenos. 

Duas das propostas eram de jogos sobre coleta de lixo, um virtual e o outro de tabuleiro. Para além do descarte correto dos resíduos, a turma trabalhou elementos como raciocínio e leitura. “Alguns alunos já leem, outros ainda não, mas foram usando as imagens, fazendo deduções e se sentindo estimulados a aprender a ler”, conta. Uma das atividades era justamente para que escrevessem pequenos recados sobre como cuidar do planeta e, depois, bilhetes a serem distribuídos na escola e em casa. 

Também fez sucesso a proposta de inventar brinquedos com embalagens recicláveis. “A construção de brinquedos foi uma unanimidade. Tem mães me dizendo que não podem mais jogar potes no lixo sem antes perguntar ao filho”, comenta a professora. Os alunos de Alcioline vão ainda colaborar numa feira de doações que está sendo organizada por uma colega do primeiro ano da escola. 

O projeto durou poucas semanas, mas a professora tem certeza que o impacto será longo, porque envolveu de fato os alunos. “Aprender sobre o meio ambiente não pode ser algo que fique só na fala do professor”, ressalta.

Turma protagonista na alfabetização dos colegas

Experiência de Gislaine Munhoz
Coordenadora pedagógica da SMESP, consultora do Programa Escolas Criativas e articuladora do Núcleo São e UNICEU da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (SP)

Já faz dez anos, mas o projeto marcou a trajetória educacional dos alunos e da professora Gislaine. “Continuo conectada com os estudantes até hoje, e percebo o impacto que o projeto teve na escolha profissional de muitos”, conta a docente. 

Gislaine era então professora do laboratório de informática de uma escola municipal e sentia no dia a dia o interesse dos estudantes pelos jogos. Ao mesmo tempo, percebia o quanto os recursos tecnológicos acabavam sendo subutilizados. “Muitas vezes, os professores só replicavam o que já faziam em sala de aula. Eu já tinha mestrado em tecnologia e sabia que era possível criar e ir muito além”, diz.

Reuniu um grupo multietário, com estudantes dos 8 aos 14 anos, e propôs a criação de jogos para ajudar na alfabetização dos colegas mais novos. Depois das primeiras versões dos games prontas, a turma percebeu que os alunos em fase de alfabetização podiam ter um papel maior do que só jogar: passaram a ser “curadores” dos jogos produzidos. 

“A princípio, os estudantes que recebiam os jogos estavam sendo passivos. Por isso, veio a ideia de que eles fizessem uma curadoria, para que pudessem opinar, dizer se estava muito difícil, porque gostava de um certo personagem, mas não outro”, relembra Gislaine. 

Foi um projeto que deu muita satisfação pessoal à docente e alcançou todos os estudantes do ensino fundamental daquela unidade de ensino. “Todos tiveram acesso aos jogos e, mais do que isso, muitos tiveram a oportunidade de opinar e entender como se dá a produção de um novo jogo ou tecnologia”, explica a professora. Claro que nem todas as opiniões puderam ser atendidas, mas ainda assim promoveram reflexões e deram voz a quem, dentro da escola, frequentemente só tem o papel de escutar.

Os aprendizados chegaram também à comunidade. “Como as crianças criaram um artefato cultural que serviu de material didático, os professores passaram a vê-las como produtores de conhecimentos”, conta Gislaine, lembrando que na época ainda havia mais preconceitos quanto à utilização de jogos na educação. 

Literatura, engenharia e criatividade

Janaína Fernandes Pessoa

Professora de Ensino Fundamental na Escola Sagrado Coração de Jesus, em Belo Horizonte (MG)

Combinar literatura e engenharia pode parecer uma escolha um tanto diferente, mas certamente dá bons frutos. É o que mostra a experiência da professora Janaína. 

Formada em Letras e Pedagogia, ela costuma dar bastante espaço para a literatura em suas aulas, por meio de formas não convencionais de trabalhar a disciplina. “Comigo, a literatura é sempre fora da caixa. Não uso nunca fichamentos ou aquelas fichas de leitura”, conta. 

Na volta às aulas, após o período de distanciamento social da pandemia, escolheu o livro E foi assim que eu e a escuridão ficamos amigas, do Emicida, para desenvolver em sala o tema do medo. Depois de ler, os estudantes foram desafiados a construir algum produto que estivesse relacionado com o tema da obra. 

“Eles criaram lanternas da coragem com rolinhos de papel higiênico. Desenharam o que seria a coragem para eles, recortaram o desenho e, quando a gente o iluminava com uma lanterna, o desenho era projetado”, relata a professora. Os resultados foram estrelas, corações, palavras de motivação e até animes. 

Mais que os resultados, porém, a professora conta que todo o processo promoveu boas aprendizagens, da ideação, ao protótipo e à fase de testes. “Eles debateram o que iriam fazer e fizeram um croqui, escreveram um texto instrucional sobre como fazer. E, claro, colocaram a mão na massa, testaram, viram o que não dava certo, experimentaram de novo até ficar bom”, cita Janaína. 

O teste não foi só para os alunos. A própria Janaína tinha aprendido sobre a ideia de juntar literatura à engenharia durante uma formação na Novel Engineering, da Tufts University (Estados Unidos) decidiu testar a proposta com sua turma, numa experiência bem-sucedida. “Eles amaram. Depois, muitos fizeram novas lanternas em casa, com outros desenhos”, recorda-se. 

Cordel para todas as idades

Experiência de Cristiano Kriko

Professor de filosofia da rede estadual em Maceió (AL)

Antes de ser professor, Cristiano já era um artista. Embora caminhe por muitos tipos de produção, foi no cordel que encontrou sua forma de expressão preferida. Assim, sempre que possível, tenta juntar suas práticas docentes com sua veia cordelista. 

Ao ser convidado a dar uma oficina para incentivar a leitura dos estudantes da EJAI (Educação de Jovens, Adultos e Idosos) de Maceió, não teve muita dúvida que iria usar o cordel como ferramenta. “O projeto da escola já existia, chamava-se Encantos de Ler, e eu trabalhei junto com a professora de português”, conta. 

Para Cristiano, os grandes mestres do cordel são inspiração. “Eu mostrei um texto de um doutor e professor de universidade, sobre cordel, e um cordel de um poeta popular semianalfabeto que também explica o cordel”, afirma, exemplificando como os saberes se conectam em diferentes momentos.

O professor trouxe a parte teórica e histórica, mas permitiu que os estudantes mostrassem o que já conheciam. “Fico sempre perguntando e a gente constrói os conceitos juntos”, diz. 

Ao final, é claro, propôs que a turma escrevesse cordéis. Como ele mesmo é autor, compartilhou com a turma suas estratégias de criação, apoiando as criações. “Lá, na hora, um conversa com o outro. Gosto de deixá-los bastante livres, perguntar se alguém precisa de ajuda”, afirma. 

Seu objetivo era estimular a produção textual, mas em razão da diversidade da turma, alguns não conseguiram compor um cordel individualmente. “Nem todo mundo está no mesmo processo de escrita. O conhecimento de mundo que as pessoas têm, às vezes, não coincide com o escolar. Até por isso chamei a oficina de Brincando de Cordel, porque todos podem brincar”, explica. 
Para Cristiano, a maior prova de que a oficina de fato impactou os jovens, adultos e idosos, foi o momento da culminância. Enquanto a turma recitava seus cordéis, o professor ganhou uma homenagem dos estudantes. “Eu não esperava! E me senti muito honrado.”

Autora: Luciana Alvarez

*Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.

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