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Rotinas de pensamento: como tornar a aprendizagem criativa visível?

Inventa daqui, monta de lá e eureka! Não há dúvida: as atividades de aprendizagem criativa são divertidas e engajadoras. Mas como identificar o que os estudantes estão aprendendo durante esse processo? As rotinas de pensamento podem ser grandes aliadas para tornar o aprendizado visível e compartilhável. 

Quem já leu os livros ou assistiu aos filmes da saga Harry Potter, da autora britânica J. K. Rowling, certamente já se deparou com a inusitada Penseira de Hogwarts, uma espécie de bacia mágica, utilizada pelo professor Alvo Dumbledore, para revisitar memórias. Apesar de o objeto ser fruto de uma ficção, pode ser uma boa metáfora para explicar o que são as rotinas de pensamento. Para a pedagoga e mestre em psicologia da educação Simone Lederman, cocriadora e gestora do Instituto Catalisador, elas são, na verdade, uma estratégia poderosa para ler a mente dos estudantes.

“As rotinas de pensamento são estratégias pedagógicas que ajudam o professor a visualizar o que o aluno está aprendendo com um pouco mais de nitidez”

“As rotinas de pensamento são estratégias pedagógicas que ajudam o professor a visualizar o que o aluno está aprendendo com um pouco mais de nitidez”, afirma Simone. De acordo com ela, para desenvolver um pensamento complexo e profundo, é necessário  tornar os caminhos da aprendizagem visíveis e compartilháveis. Ou seja, os estudantes precisam compreender, de forma consciente, como chegaram a uma determinada constatação, e entender tão bem a ponto de conseguir explicar esse percurso a outras pessoas. “Não aprendemos só com a experiência, mas também com o processo de compartilhamento”, explica, ao citar os pilares da espiral da aprendizagem criativa (imaginar, criar, brincar, compartilhar e refletir). 

Rotinas de pensamento no dia a dia da escola 

A prova tradicional costuma ser uma das maneiras mais utilizadas nas escolas para tornar o pensamento visível. Porém, essa não é necessariamente a estratégia ideal para engajar e mobilizar a turma. “É difícil convencer um jovem hoje em dia de que a prova ainda faz sentido”, destaca Simone. Por outro lado, o compartilhamento engaja e motiva. Então, quando as rotinas de pensamento são incorporadas no dia a dia da sala de aula, elas se tornam um processo natural de aprender e refletir sobre os aprendizados. “Eu não preciso marcar um dia pra isso acontecer, não preciso de uma atividade. Isso se torna um hábito.” 

Para apoiar  os educadores a tornar a aprendizagem criativa visível, com estratégias que vão além da prova, o Instituto Catalisador organizou a tradução de uma série de materiais, com rotinas de pensamento sistematizadas pela Agency by Design,  iniciativa de pesquisa do Project Zero, da escola de pós-graduação em educação de Harvard (Estados Unidos). 

“Não é preciso fazer nenhum curso prévio para colocar as rotinas de pensamento em prática nas salas de aula. Basta perder o medo e experimentar”, garante Simone, ao explicar que essas estratégias são acessíveis para todos os educadores. Elas podem ser utilizadas em diferentes momentos e contextos, como dar início a um novo projeto, chamar atenção dos estudantes para temas e conceitos ou até mesmo servir como um instrumento de avaliação.

“Não é preciso fazer nenhum curso prévio para colocar as rotinas de pensamento em prática nas salas de aula. Basta perder o medo e experimentar”

Como exemplo, ela cita uma rotina de pensamento conhecida popularmente como “Vejo, Penso, Pergunto“. A ideia nada mais é do que colocar um freio na nossa velocidade na hora de consumir informações. “Como em todas as rotinas, ela fatia as ações mentais que costumamos fazer de forma rápida e simultânea. A proposta é forçar a barra para fazer isso aos poucos e devagar”, indica.  

Imagine que os estudantes são apresentados a um mural com fotos de mulheres, como Irmã Dorothy, Greta Thunberg e Nina Gualinga. Antes de fazer a leitura de que elas são ativistas ambientais, a ideia é simplesmente descrever as imagens de forma objetiva. Por exemplo, são mulheres, com idades diferentes, com feições que demonstram que estão defendendo uma causa. Depois desse processo, é hora de pensar sobre o que essas imagens representam e, por fim, fazer perguntas sobre elas. “No começo, pode parecer meio bobo e esquisito, porque estamos forçando a barra para fazer uma coisa que já fazemos muito rápido, sem nos dar conta”, adverte Simone. 

Outro exemplo de rotina de pensamento citada por ela é a “Partes, Propósitos, Complexidades”. Nela, os estudantes são convidados a pegar um objeto ou sistema para pensar sobre quais são suas peças e componentes. Feito isso, devem identificar os propósitos de cada uma delas e entender como se relacionam para atingir um determinado objetivo, que pode ser movimentar um robô, sustentar uma estrutura ou até mesmo fazer um circuito elétrico funcionar. 

“Fazer primeiro para pensar depois é uma estratégia mais potente para se engajar com a aprendizagem, mas só fazer não é suficiente. Na aprendizagem criativa, a rotina de pensamento é uma estratégia para ir do fazer até o momento de reflexão sobre a prática”, conclui Simone. 

Clique aqui para acessar as rotinas de pensamento da Agency by Design, traduzidas pelo Instituto Catalisador.

Autora: Marina Lopes

* Conteúdo produzido e editado pelo Porvir.

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